SEM PRESSA

O cansaço da viagem se mistura a um turbilhão de emoções. Ai, porque resolvi voltar, começo a me questionar. Terra firme, esta frase não me sai do pensamento. Uma estrada de mão única me trouxe de volta e todos os meus medos e receios terão de ser superados agora. A realidade é algo que não podemos temer e sim viver. Tenho que encarar, sou uma loba, não fugi nem nos meus piores momentos. Não é agora que irei travar. Num impulso me levanto da poltrona do avião, tento alinhar meu vestido em meu corpo, e suavemente me acaricio, este é um momento em que preciso de mim. Aliso meus cabelos e exalo um pouco de perfume em mim, me faz me sentir mais segura. Meu celular serve de espelho para o ultimo retoque do batom vermelho carmim. Observo os olhares dos lobos sobre meu corpo e isso me excita, alimenta meu lado femea predadora. Pobres mortais, tão previsiveis. Pego minha bagagem de mão e sigo para o saguão do aeroporto,lá sou aguardada pelo administrador da minha fazenda. Seus olhos saltam ao me avistar e o brilho deste olhar me transmite segurança. Respiro aliviada, alguém conhecido. Ele me conduz até o carro e me avisa que minhas bagagens já estão em seu poder. Animado aquele homem de traços másculos e comportamento simples me pergunta se fiz uma boa viagem, e com um largo sorriso me diz que o tempo só me fez bem. Eu com um leve sorriso agradeço sua franqueza. Mas por dentro concordo perfeitamente com ele, meu corpo, minha pele, meus cabelos... os cuidados que sempre tive comigo para comigo. Jamais deixaria o tempo me destruir, a vida tentou, as pessoas tentaram, mas ninguém conseguiu, sobrevivi a tudo e a todos. A minha determinação, o amor proprio, o carinho por mim mesma me tornam a mulher que sou, a loba que sofreu tanta transição mas que jamais se deixou destruir. Algumas horas de estrada ainda me afastam da minha antiga realidade, estou morrendo de saudades de tudo que deixei para trás... ou quase tudo. Algumas coisas é melhor nem lembrar, feridas que aparentemente estão cicatrizadas... só Deus sabe! Quero saber de tudo, o aras, o orfanato, a escola, minhas crianças, o novo padre... minhas freiras? Você trate de organizar minha agenda, quero tomar pé de tudo, de como andam as coisas por aqui, viu? (Pareço uma criança ansiosa para chegar ao destino). Sim patroa! Nós já imaginávamos que a senhora iria voltar desse jeito. Está tudo pronto e todo mundo à postos, só aguardando pela senhora. Abro o vidro do carro e mando desligar o ar condicionado. Quero sentir o cheiro da terra, do mato verde. Quero sentir o vento fresco batendo em meu rosto... o mato molhado pela serração... De volta ao meu mundo, ao meu habitat...meus pêlos se arrepiam!

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