ADOÇÃO AINDA É UM TABU NA SOCIEDADE

A estrada começa a se formar em minha frente... os pinheiros que ladeiam aguçam a minha imaginação trazendo muitas lembranças ou pelo menos parte dela, reconheço o cheiro , a beleza a sinuosidade. O vento batendo em meu rosto misturando o cheiro de mato com o do meu cheiro me traz uma luz em torno. Ir ao orfanato, é ir atrás da minha história. O tempo passa assim como esta estrada. Na minha epoca chamavamos o Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA) simplesmente de orfanato onde são mais de 30 mil crianças acolhidas nestas unidades em todo o país e mais de 5mil aptas para a adoção. Flashes em minha memoria me assustam, busco as lembranças no mesmo tempo em que fujo delas. Preciso focar na minha visita. A madre mandou me chamar pois tem um assunto sério para tratar comigo . Preciso controlar minhas emoções. Imagino que seja por conta do crescimento do orfanato devido ao grande abandono e descasos que estão acontecendo com as criança. Sempre buscamos o melhor para elas, alimentos,aposentos, educação, mas, a diminuição de apoio dos empresários devido a atual conjuntura não está sendo facil. De longe avisto o portão de ferro que separa estes dois mundos. Um frio na barriga me invade e eu começo a suar frio... medo, receio, um mix de saudades com vontade de nao mexer com as feridas. Chego ao portão que me levará direto ao meu passado, as lembranças , sejam elas boas ou ruins estarão me esperando ali. Os seguranças me abordam pedindo identificação e ficam emocionados quando me identifico. - Pode entrar senhora! Estão todos a sua espera no pátio central. Sorri, agradeci e segui. Me lembro da frase do Imperador Romano Julio Cesar "VENI, VIDI ET VICI" Na entrada do prédio avisto ter moças visivelmente excitadas que se aproximam do meu carro com imenso e largos sorrisos estampados no rosto misturados ao rubor, elas me dão as boas vindas. E me arrastam pelas mãos até o pátio onde sou anunciada... Aplausos, gritos, e uma imensa agitação invade aquele espaço. Assombrada com o calor da recepção, sigo meio em extase. Meu Deus do céu! Parece o final de uma copa do mundo rsrsr. Crianças uniformizadas, funcionários perfilados, apresentações... e o mais emocionante de tudo , ex órfãos que estavam ali se apresentando como voluntários, que me conheceram no passado , estavam ali, era a forma que encontraram de agradecimento pelos anos e educação que ali receberam. As horas voam e as crianças não aparentam um pingo de cansaço, a alegria e a energia é contagiante. Já estava ficandocom fome mas, minha pelenão parava de se arrepia com cada homenagem. Finalmente chega o horário do almoço e todos seguem para o refeitório felizes, pulando, gritando, brincando... hoje toda manifestação é bem vinda. Já se vão horas que invadem a tarde e busco saber da minha querida madre, peço para que me levem até ela. Mas antes preciso me recompor para ter esta conversar com ela. Quando saio do banheiro onde me recompus recebo a noticia de que quando ela soube da minha presença ficou muito agitada e os médicos acharam por bem lhe aplicar um sedativo. Respiro meio que aliviada, de certa forma tive uma prorrogação na minha historia. Não chamo de medo, mas minha intuição de loba me diz que o que vem por ai é algo que vai abalar minhas estruturas, então... Dormirei por aqui hoje. Amanhã espero poder vê-la mais calma. Ela e eu!

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