EU POSSO CONTINUAR VIVA





Sou filha da mata...
Sou filha da terra...
Sou filha de um caso de amor.


Gerada e concebida no mais puro e duro sentimento.
Fusão de sonhos, fusão de esperança.
Nascida na  dura realidade...


Meu pai um homem branco , caçador de riquezas num solo até então desconhecido chamado ilha de Vera Cruz.
Ao adentrar por entre a selva se portou feito um leão,
quando seu olhos cobriram o corpo de minha mãe.
Ali ele viu dentre todas a maior das riquezas.


Mamãe uma linda india...animal aos olhos lusitanos por ser um ser selvagem

Perante sua nudez meu luso pai caiu de amores.
Posso imaginar sua reação perante o corpo rijo feminino.
Suas mãos devem  ter ficado irrequietas, seus olhos  duas brasas, as  narinas dilatadas, a pele  a estalar...o caçador recebeu (a) ordem do coração.



Ah...quem sou eu?
Qual identidade carrego?
Se no sangue carrego uma história de amor e de dor.
Fui gerada sem limites de raça e fronteira.
Fui fadada...nesta Terra brasilis.


Minha mãe um mulher selvagem que desconhecia o mundo lá fora.
Deve ter visto no meu pai uma divindade trazido pelas águas do oceano.
Rendeu-se a arma do caçador , deixando-se  abater...morrendo de amor.


Ah...quem sou eu?
Qual identidade carrego?


Pois após esta caçada avassaladora, meu pai embrenhou-se pela mata adentro. 
Em busca de outras riquezas, deixando o animal abatido para trás.


Ah...quem sou eu?
Qual identidade carrego?
Pois após tanta dor  fui expelida do corpo de minha mãe.
Que de dor ou por amor, me jogou no rio.


Qual nome devo carregar?
Já que o destino quis que eu gerada em tanta desgraça permanecesse viva?



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